quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A trajetória do cinema brasileiro


Antes de escrever qualquer coisa sobre cinema brasileiro é preciso primeiramente conhecer a trajetória do cinema nacional, com todas as suas fases e percalços para compreender quais foram os percursos que transformaram a nossa sétima arte no que ela é atualmente e, ao mesmo tempo, entender como foi consolidada a relação com o público brasileiro.


1ª época – 1896 a 1912

Em 1896, o cinema chega ao Brasil com a máquina Omninographo. Houve exibições durante duas semanas na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro. Contudo a fita de enredo, só surgiu no Brasil em 1908, pois não havia recursos para que houvesse uma produção sistemática no nosso país. Assim, só após 12 anos da chegada do cinema no Brasil é possível encontrar um filme nacional sendo exibido nas telas.

Há dúvidas sobre qual seria a primeira fita, mas relatos indicam ser “ Nhô Anastácio Chegou de Viagem”, um filme que narrava as peripécias de um matuto que veio passear no Rio de Janeiro. Dessa forma, a nossa produção começa tendo como protagonista um homem do interior do Brasil, e o velho contraste entre o rural e o urbano. A fita tinha uns 15 minutos de duração.

Logo após houve uma série de filmes inspirados em crimes conhecidos do RJ, como “ Os Estranguladores” e “ Mala Sinistra”. Até que, entre 1909-1910, o Brasil alcançou a cota de 100 títulos e em 1912 é iniciada uma crise.


2ª época – 1913 a 1922

A média anual de produção de filmes de 1912 a 22 foi apenas de seis filmes. Inicialmente, tentou-se arrancar o cinema nacional do marasmo com filmes que abordavam crimes. Já na produção que se desenvolve a partir de 1915 há predominância de fitas inspiradas em nossa literatura, “ o Guarany”, “ A moreninha” e “ Lucíola”.

Tornou-se difícil o acesso da produção nacional aos circuitos de salas. A realização de filmes de enredo foi escassa e a imprensa, que poderia colaborar, acaba não tendo conhecimento da produção cinematográfica nacional, esta por sua vez vai se definindo como uma atividade marginal.

Uma das causas, desse pouco espaço para os filmes brasileiros foi a penetração do cinema norte-americano no Brasil, já que com a Primeira Guerra Mundial a Europa perde a sua posição de destaque na exportação de filmes.


3ª época – 1923 a 1933

Entre 1923 a 1933 foram completados cerca de 120 filmes, o dobro da década anterior. Há uma descentralização do foco Rio de Janeiro e São Paulo. Dentre os ciclos regionais, o que mais produziu foi o de Pernambuco ( 13 filmes em oito anos).

Os ciclos do país acabam sendo reflexos de correntes internacionais, como: o Ciclo de Pernambuco: filme mudo de cowboy americano; o Ciclo da Vera Cruz, pastiche de Hollywood nos anos 40; o Ciclo da Chanchada, imitação das comédias da Metro; o Cinema Novo, herdeiro do neo-realismo italiano e a Pornochanchada, versão brasileira da comédia erótica italiana.

O Ciclo de Cataguases pode ser considerado o mais nacional de todos os ciclos. As obras realizadas nele Valadião, o Cratera;Primavera da Vida; Tesouro Perdido; Brasa Dormida; e Sangue Mineiro foram projetadas nacionalmente e tornaram-se fontes de inspiração para o que o cinema brasileiro moderno veio a propor em termos de perspectiva de abordagem estética de uma realidade brasileira. Além disso, com Humberto Mauro, responsável por essas produções, o Brasil tem o seu primeiro cineasta com uma carreira contínua e coerente.

Entretanto, o filme brasileiro já lutava pela sobrevivência num mercado invadido pelas fitas importadas, Pereira (1973) destaca que o filme estrangeiro por meio de franquias alfandegárias e se aproveitando da ausência de dispositivos de incentivo à produção de filmes nacionais acabou ganhando na batalha comercial da oferta e da procura. Esse mesmo autor aborda o dilema do cinema brasileiro ao falar que o setor de exibição acusava a baixa rentabilidade dos filmes nacionais como causa da crise do mercado, enquanto a produção acusava a fraude nas rendas, a sabotagem e a prática de pressões anti-nacionais como causa das dificuldades sofridas pela indústria cinematográfica brasileira.

Essa história continua na próxima postagem...

Referências:

GONZAGA, Adhemar, GOMES Paulo Emílio Salles. 70 anos de cinema brasileiro. São Paulo: Expressão e Cultura S.A, 1996.

PEREIRA, Geraldo Santos. Plano geral do cinema brasileiro. São Paulo: Borsoi. 1973

3 comentários:

Gabi Maciel disse...

Oi Sabrina!
Parabéns pela iniciativa em dar lugar ao cinema rural brasileiro!
Eu mesma vou sempre me interar por aqui, pois não sei quase nada! rs*

Débora Antunes disse...

Nem sabia que o cinema brasileiro tinha um "Ciclo de Cataguases", com seus conterâneos! E concordo com a Gabi, é legal a idéia de retratar o cinema rural, porque ultimamente o cinema brasileiro tem se voltado para isso ou para favelas/criminalidade e entre esses dois o cinema rural parece não ser tão divulgado e retrata um Brasil bem mais "saudável", ainda que a miséria fique como enredo de muitos filmes.

Mônica Bento disse...

Aha, aqui estou!
Agora sei tudo sobre os ciclos do cinema brasileiro, pode perguntar! ;)
Ok, AINDA não sei, mas vou vir sempre aqui aprender um pouco ok? Blog super completo!
8)