quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Deus e o Diabo na Terra do Sol

O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. Essa é uma das profecias repetidas em um dos filmes mais citados quando se fala da temática rural no cinema brasileiro. Por isso, não poderia deixar que, no mar de produções cinematográficas, ao menos uma obra de Glauber Rocha fosse apresentada no cinebrasileiral.

Ficha técnica
Título Original: Deus E O Diabo Na Terra Do Sol

Gênero: Drama

Duração: 125 min.

Lançamento (Brasil): 1964

Distribuição: Copacabana Filmes
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Elenco principal: Geraldo Del Rey, Othon Bastos, Maurício do Vale
,Yona Magalhães, Lídio Silva e Sônia dos Humildes.

O filme conta a trajetória de Manuel (Geraldo Del Rey), um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo seu patrão e em uma briga acaba matando-o. O que resta a Manuel é fugir com a sua esposa, Rosa (Yoná Magalhães), dos jagunços. Na fuga ele encontra Sebastião (Lídio Silva) que passa a ser visto por Manuel e por outros seguidores como um santo, um salvador. Só que Rosa não gosta das atitudes de Sebastião e da alienação que Manuel é submetido. Assim, ao presenciar a morte de uma criança, Rosa mata o beato. O casal tem de fugir novamente e agora passam a pertencer ao cangaço liderado por Corisco ( Othon Bastos ). Entre caminhadas, sonhos, sertão, mar, Deus e o diabo, Manuel vai encontrando o seu desfecho.
As cenas são permeiadas pela inserção de um narrador que conta a história de Manuel em forma de cordel misturando realidade e ficção. O filme também traz uma visão crítica dos movimentos messiânicos comuns ao sertão e da brutalidade dos jagunços e apresenta um homem do meio rural engajado e pronto para lutar.
Deus e o diabo na terra do sol é um dos marcos do nosso cinema por trabalhar com narrativas e jogos de câmera diferentes que se movimentam junto com os personagens e seus conflitos, acompanhada de uma trilha sonora em certos pontos dramática, com músicas de Heitor Villa-Lobos trazendo a tensão ao espectador. A realidade apresentada nas telas é perturbadora, confunde, choca e nem todos estão prontos para vê-la.

Curiosidades

Deus e o Diabo na Terra do Sol concorreu à Palma de Ouro no XVII Festival do Filme, em Cannes, perdendo para uma comédia musical francesa, mas é a partir daí que o Cinema Novo passa a ser conhecido mundialmente.

Glauber Rocha tinha 24 anos na época em que dirigiu o filme.

Premiações

- Ganhou o Grande Prêmio Latino-Americano, no Festival de Mar del Plata.

- Ganhou o Prêmio da Crítica Mexicana, no Festival de Acapulco.

- Ganhou o Grande Prêmio do Festival de Cinema Livre, na Itália.

- Ganhou o Náiade de Ouro, no Festival de Porreta Terme.

Confira alguns trechos do filme:


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A máquina em aúdio

Ficha Técnica
Título Original: A Máquina
Gênero: Drama

Duração: 90 min.

Lançamento (Brasil): 2005

Distribuição: Buena Vista International
Direção: João Falcão
Roteiro: João Falcão e Adriana Falcão
Música:
DJ Dolores, Chico Buarque e Robertinho do Recife
Fotografia:
Walter Carvalho
Elenco principal: Gustavo Falcão, Mariana Ximenes, Lázaro Ramos, Vladimir Brichta, Wagner Moura e Paulo Autran.

Olá, esse post conta com uma novidade. Se você quiser conhecer a encantadora história do filme A máquina, de João Falcão, vai ter que ouvir o podcast abaixo que conta com a minha narração mais as falas dos personagens do filme, como Antônio do futuro ( Paulo Autran), Antônio do passado( Gustavo Falcão), Karina ( Mariana Ximenes), além de um pouco da trilha sonora do filme.






quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A marvada carne

Ficha Técnica
Título Original: A Marvada Carne
Gênero: Comédia
Duração: 77 min.
Lançamento (Brasil): 1985
Distribuição: Embrafilme
Direçâo: André Klotzel
Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
Música: Rogário Duprat
Fotografia: Pedro Farkas
Elenco Principal: Adilson Barros, Fernanda Torres, Dionísio Azevedo, Geny Prado, Regina Casé, Lucélia Machiavelli e Paco Sanchez

Um dos clássicos do nosso cinema, a Marvada Carne apresenta o caipira da forma tradicional de representação das produções cinematográficas brasileiras, isto é, um matuto engraçado que sai andando em busca de algo. Nesse caso o caipira é NhôQuim(Adilson Barros) e a procura é por carne e uma esposa. Isso mesmo, NhôQuim decide largar tudo para ir em busca de uma necessidade, comer carne de boi e se possível arrumar uma noiva. Na sua caminhada ele acaba encontrando Catula ( Fernanda Torres), uma moça que vive implorando a Santo Antônio um casamento. A jovem, ao descobrir o desejo de Quim, engana o matuto dizendo que no dia do casamento o seu pai mataria um boi. Quim resolve então se casar com ela, após passar por uma série de provas. Depois do casamento, ele espera a carne de boi que nunca chega. Até que o casal vai para a cidade e no meio de uma confusão, finalmente chega a tão sonhada carne de boi.

O filme torna-se cômico, principalmente, ao mostrar o cotidiano do meio rural e suas crendices, como por exemplo a relação de Catula com Santo Antônio, a vontade dela beber água no mesmo copo de Quim para descobrir o pensamento dele e o encontro do caipira com o Curupira (esse encontro pode ser verificado no vídeo abaixo).


O destaque da trilha sonora é a música Cana Verde de Tonico e Tinoco.

Premiação

A Marvada Carne conquistou quase todos os Kikitos do Festival de Gramado de 1985, incluindo os de Melhor Filme (pelos júris popular e oficial); melhor diretor, para André Klotzel; melhor atriz, para Fernanda Torres; melhor roteiro, para Klotzel e Carlos Alberto Soffredini, melhor fotografia, para Pedro Farkas; melhor música original, para Rogério Duprat; melhor cenografia para Adrian Cooper: melhor edição, para Alain Fresnot, e prêmio especial, para o ator Dionísio Azevedo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O velho Chico na tela

"Dizem que se um dia você beber da água do Rio São Francisco, não poderá mais esquecê-lo e sempre retornará....Há duas formas de viver esse privilégio: compartilhando-o com os que já conhecem ou apresentando-o ao maior número de pessoas para que também passem a conhecer a profunda, peculiar e vasta cultura desse lugar." Marcus Vinicius Cézar

Embora não tenha atingido ao maior número de pessoas desejado, já que Espelho D'Água, quando lançado teve apenas 18.096 espectadores, a proposta inicial do diretor Marcus Vinicius Cézar não deixou de ser cumprida, pois o filme é um convite para querer mergulhar na rica cultura do Rio São Francisco. Por isso não posso deixar de comentar aqui no cinebrasileiral essa obra.

Ficha técnica:

Título Original:
Gênero: Drama
Duração: 105 minutos
Lançamento (Brasil): 2004
Distribuição: Copacabana Filmes
Direção: Marcus Vinícius Cezar
Roteiro: Marcus Vinícius Cezar, Lara Francischetti e Yoya Wursh.
Atores Principais: Carla Regina, Fábio Assunção, Francisco Carvalho, Regina Dourado, Aramis Trindade, Charles Paraventi e Severo D' Acelino


Um filme que além de encantar e divertir apresenta a magia das margens do Rio São Francisco e a beleza natural e cultural da região. Assim poderia ser definido Espelho d’água - Uma Viagem no Rio São Francisco.
Aparentemente, temos a sensação de que o filme é apenas uma obra romântica que apresenta a história de um fotógrafo, Henrique, interpretado por Fabio Assunção, longe de sua namorada, Celeste (Carla Regina). Contudo é possível perceber que Espelho d’ água não se trata de um mero romance, já no início, quando um dos moradores questiona o fato de nas fotos o rio estar brilhando embora o mesmo não ocorresse por baixo do espelho d’ água. A partir daí, o fotógrafo reflete sobre o seu trabalho e, na busca por novas imagens, sofre um acidente. Celeste começa então a sair em busca de Henrique, percorrendo o Rio São Francisco.
Em meio a essa procura há a junção entre ficção e documentário e são apresentadas a cultura do local por meio dos personagens Abel ( Francisco Carvalho) e Penha (Regina Dourado) que exemplificam os costumes, as tradições e a religiosidade da população ribeirinha através de romarias, festas populares e o ato de jogar cabaça no rio para alcançar uma graça. Além disso, a história do filme é envolta em lendas da região, tais como, Curupira, Minhocão, Bicho d’água e Pisadeira e, ao mesmo tempo, faz-se uma contraposição da visão de Celeste, como turista, com a da população ribeirinha quanto aos mitos presentes no imaginário popular.
Outros pontos fortes do filme são a fotografia de José Tadeu Ribeiro e a trilha sonora de Naná Vasconcelos, ambas premiadas. Todos os elementos unidos acabam permitindo que assistir Espelho d’água seja uma maneira de realizar uma viagem ao velho Chico. Por isso, vale a pena garimpar nas locadoras para ter a oportunidade de assistir a rica cultura brasileira na tela.

Principais Premiações:
- Melhor Ator Coadjuvante (Francisco Carvalho) e Melhor Atriz Coadjuvante (Regina Dourado). no CINEPE (2004).
- Melhor Fotografia e Melhor Som - Prêmio TAM no 8º Festival de Cinema de Miami.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mazzaropi e o eterno Jeca Tatu


Quando se fala em cinema retratando o meio rural, é difícil não se lembrar dos filmes de Amácio Mazzaropi. Ao todo foram 32 produções nacionais que levavam de forma cômica o homem do campo às telonas e conquistavam o grande público, apesar de duras críticas da elite cinematográfica nacional.
Para representar os filmes de Mazzaropi, escolhi colocar no cinebrasileiral "Jéca Tatú" , através desse filme a denominação
jeca cheia de estereótipos apareceu pela primeira vez no cinema brasileiro.

Ficha técnica:
Título original: Jéca Tatú
Lançamento: 1959
Gênero: Comédia
Duração: 95 min.
Direção e roteiro: Milton Amaral
Argumento: Amácio Mazzaropi
Produção: PAM Filmes
Elenco principal: Mazzaropi, Roberto Duval, Geny Padro, Nena Viana, Franciso de Souza, Miriam Rony, Marlene França e Marthus Mathias.

Baseado na história "Jeca Tatuzinho", de Monteiro Lobato, o filme Jéca Tatu conta a história de um caipira preguiçoso que vê a sua propriedade ameçada por causa da ganância de um latifundiário vizinho, Sr. Giovanni. Entre a briga dos dois, está o personagem Vaca-Brava, o vilão da história, que ao saber da paixão da filha do jeca pelo filho do latifundiário, começa a armar para que as disputas dos dois proprietários atrapalhe o romance.

É interessante no notar no filme como o jeca é construído de forma caricata, sendo a representação de um homem desengonçado, preguiçoso e ingênuo. Outro fator que não pode deixar de ser notado é como o padrão hollywoodiano influenciava na produção dos filmes brasileiros. O personagem Vaca-brava é praticamente um cowboy, a juventude que aparece no filme quando o jeca vai para a cidade, parece retirada de um filme norte-americano e sem nenhuma contextualização real, com o enredo, apareciam musicais no filme, como por exemplo, a interpretação de Tony e Celly Campello da música "Tenho tempo para amar" ( veja o vídeo abaixo) e a de Agnaldo Rayol sobre uma cerca cantando "Estrada do Sol".

E, claro, além de ser possível refletir sobre a produção da época, jeca tatu é capaz de, ainda hoje, despertar risos, comover o espectador e trazer para a discussão a polêmica levantada por Mazzaropi numa entrevista à Veja em 1970, quando foi questionado sobre o Cinema Novo:
"Só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas de cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em busca de emoções diferentes. O público é simples, ele quer rir, chorar, viver minutos de suspense. Não adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põe a boca. Isso é para agradar intelectual."
E aí, você concorda com Mazza?