sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Central do Brasil

Já que comecei falando de filmes premiados, não posso deixar de colocar no cinebrasileiral, Central do Brasil, uma produção que, ao ser destaque no exterior, fez com que a mídia ao menos se voltasse para o cinema brasileiro e mostrasse a qualidade do que era até então produzido no nosso cinema.

Ficha técnica:

Título original: CENTRAL DO BRASIL
Lançamento: Brasil-1998
Direção: Walter Salles
Roteiro: Marcons Bernstein e João Emanuel Carneiro
Gênero: Drama
Duração: 113 minutos.

Elenco principal: Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra,Othon Bastos, Matheus Nachtergaele, Soia Lira, Otávio Augusto, Caio Junqueira e Stella Freitas.


Sinopse:

Central do Brasil apresenta a história de Dora (Fernanda Montenegro) uma professora que escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil. As histórias que ela ouve e transcreve, são normalmente, de uma população migrante nordestina, que tenta manter os laços com os parentes e o passado.
Uma das clientes de Dora é Ana que vem escrever uma carta com seu filho, Josué (Vinícius de Oliveira), um garoto de nove anos, que sonha encontrar o pai que nunca conheceu. Na saída da estação, Ana é atropelada e Josué fica abandonado. Dora, mesmo tendo relutado, acolhe o menino, e, na busca para encontrar o pai dele, no interior do Nordeste, é construída uma bela amizade entre os personagens que antes eram meros desconhecidos.


Central do Brasil é um exemplo de filme que elege o rural, o interior do Brasil, como a verdadeira face do país, e contrasta o urbano com o rural. A personagem Dora é a representação desse contraste. No início do filme, isto é, quando está inserida no ambiente individual e conturbado do urbano, Dora parece ser insensível e mal-humorada e a medida em que se aproxima do meio rural, a personagem vai adquirindo sensibilidade, deixando de trapacear e mostrando um grande afeto que parecia não existir mais nela. É como se o filme, através de Dora, nos apontasse o caos, a frieza do meio urbano, onde tudo parece dar errado, mas mesmo assim, é o lugar que recebe a massa de migrantes nordestinos em busca de melhores oportunidades. Ao mesmo tempo, também nos é demonstrada a reconquista da identidade, tanto de Josué quanto de Dora, a partir do momento em que se adentra no interior do país.


Principais Premiações:


- Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi indicado na categoria de Melhor Atriz em Drama.

- Ganhou o Urso de Ouro de Melhor Filme, o Urso de Prata de Melhor Atriz (Fernanda Montenegro) e Prêmio Especial do Júri, no Festival de Berlim.

- Recebeu 2 indicações ao Oscar: Melhor Atriz (Fernanda Montenegro) e Melhor Filme Estrangeiro.


Curiosidades:

- Central do Brasil foi o primeiro trabalho como ator de Vinícius de Oliveira. Walter Salles o conheceu enquanto o menino trabalhava como engraxate e o convidou para fazer um teste. Nos testes Vinícius superou mais de 1500 outros concorrentes ao papel.

- Quando Fernanda Montenegro se posicionou para as filmagens na Central do Brasil algumas pessoas de fato se aproximaram dela pedindo que escrevesse cartas. Algumas dessas cenas foram incorporadas ao filme.

- A música de "Central do Brasil" foi composta por Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum, os dois prepararam uma trilha em que os instrumentos clássicos vão sendo substituídos por instrumentos nordestinos a medida que os dois personagens se aproximam de seu destino. Uma das mais belas melodias do filme, "Toada e Desafio" , é do grande compositor pernambucano Capiba.


A beleza e emoção despertadas pelo casamento entre imagem e trilha podem ser observadas na última cena do filme.



segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Pagador de Promessas

Após ter apresentado O quatrilho (1994), como um dos principais filmes contemporâneos que retratam o rural, chegou a vez de apresentar um clássico do nosso cinema. No post de O quatrilho mesmo, eu já havia o citado, trata-se de O pagador de promessas (1963), primeiro filme brasileiro a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Ficha técnica:

Título Original: O Pagador de Promessas
Gênero: Drama
Duração: 95 min.
Lançamento:1962
Distribuição: Lionex Films e Embrafilme
Direção: Anselmo Duarte
Roteiro: Anselmo Duarte
Elenco Principal: Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Geraldo Del Rey, Norma Bengell, Othon Bastos e Antônio Pitanga.

Baseado na peça teatral de Dias Gomes, O pagador de Promessas retrata a miscigenação religiosa brasileira e, ao mesmo tempo, a devoção e ingenuidade do povo através da figura de "Zé do burro" ( Leonardo Villar), um homem simples, do campo, que vive com sua esposa, Rosa (Glória Menezes), em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. O conflito do filme inicia-se quando o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele, para salvar o animal, acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara.

Após o burro, Nicolau, ter sido salvo, Zé tenta cumprir a promessa feita. Entretanto, o que deveria ser um simples ato de fé toma proporções gigantescas quando Zé é barrado pelo vigário local, que o impede de entrar na igreja carregando nas costas a imensa cruz que havia prometido.
A história de “Zé do burro” começa a ser acompanhada por jornalistas, políticos, mães de santo, contador de histórias e beatas. Ele passa a ser visto como santo e mártir para grande parte da sociedade, um infiel para a igreja e um arruaceiro para polícia.

Principais Premiações

- Palma de Ouro no Festival de Cannes, França (Melhor longa-metragem), 1962;

- Festival Internacional de São Francisco, Estados Unidos (Melhor filme) prêmio Darius Milhaud e melhor música (Golden Gate),1962;

- Melhor filme, produtor (Oswaldo Massaini), ator (Leonardo Villar) e prêmio especial (Anselmo Duarte e Dias Gomes), prêmio Saci, São Paulo, 1962;

- Melhor filme, diretor, ator (Leonardo Villar), atriz (Norma Bengell), ator secundário (Geraldo del Rey) e revelação (Glória Menezes), V Festival de Cinema de Curitiba, Paraná, 1962;

- Melhor filme, diretor, ator (Leonardo Villar) e atriz (Glória Menezes), troféu Cinelândia, Rio de Janeiro, 1962.

Curiosidades

- O Pagador de Promessas foi o primeiro e até agora o único filme brasileiro a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.


- Foi exibido na Casa Branca, em 17.12.1962 e entusiasticamente aplaudido pelo presidente Kennedy, diplomatas e jornalistas.

- Segundo o site adoro cinema brasileiro, quando o filme o Pagador de Promessas ganhou a Palma de Ouro, teve que lutar contra muito mais que outros filmes. O Embaixador em Paris e o Itamaraty não acreditavam realmente no cinema brasileiro, chegando ao ponto de não emprestar a bandeira do Brasil para o festival. O problema da bandeira foi resolvido quando Anselmo Duarte encontrou numa casa a bandeira hasteada. Porém a bandeira não tinha metade do tamanho do padrão e, pela primeira vez, só se hasteou a bandeira do vencedor, as outras ficaram cerradas, caso fossem também abertas seria possível notar que a do Brasil era menor.

Veja o trailer de O pagador de Promessas:




sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Quatrilho

Como disse no post anterior, a partir de agora serão apresentados, no cinebrasileiral, filmes nacionais, lançados após a aclamada retomada do nosso cinema, que retratam de alguma forma o interior brasileiro. Bem, não há melhor filme para estrear aqui do que O quatrilho (1995), a primeira produção nacional, a partir da retomada do cinema brasileiro, a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Antes dele, apenas O pagador de Promessas (1963) tinha conseguido tal façanha. E, claro, O quatrilho abriu as portas para outras produções, como por exemplo, O que é isso companheiro?

Ficha técnica:
Título Original: O Quatrilho

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 1995

Distribuição: RioFilme
Direção: Fábio Barreto

Roteiro: Antônio Calmon e Leopoldo Serran, baseado em livro de José Clemente Pozenato
Elenco: Glória Pires, Patrícia Pillar, Alexandre Paternost, Ângelo Gardone, Gianfrancesco Guarnieri, Cecil Thiré, Cláudio Mamberti,José Lewgoy.

Baseado no romance homônimo de José Clemente Pozenato, de mesmo título, o filme se passa no Rio Grande do Sul, no início do século XX. Dois casais muito amigos passam a dividir a mesma casa para poder sobreviver.
Segundo um sábio da comunidade, o quatrilho é "um jogo demoníaco que faz viver a tentação da infidelidade". O jogo acaba sendo uma metáfora da situação que os dois casais viverão. O relacionamento dos quatro acaba fazendo com que a esposa de um (Patrícia Pillar) envolva-se com o marido ( Bruno Campos) de sua amiga. Os dois começam uma relação e, com o tempo, decidem fugir para tentar a vida em outro lugar. Os outros dois que ficam na casa, (Glória Pires e Alexandre Paternost), passam a ser mal-vistos pela comunidade e enfrentam o conservadorismo e preconceito.
Rodado inteiramente em cidades como Caxias do Sul, Farroupilha, Carlos Barbosa e Bento Gonçalves, o filme possui fotografia de Félix Monti, destacando as paisagens locais. A trilha sonora traz composições exclusivas de Caetano Veloso e Jaques Morelenbaum.


Premiações
:
Recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas a premiação foi para a produção holandesa A Excêntrica Família de Antônia (1995).
Ganhou Palma de Ouro em Cannes.

Recebeu os prêmios de Melhor Atriz (Glória Pires), Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora no Festival de Havana.




sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Pós-64 – O rural é nossa salvação.


A política dos anos 60 para a valorização da cultura nacional não vingou como se esperava, pois o internacionalismo da indústria cultural estava presente no Brasil e a própria produção nacional acabava pautando-se por idéias conservadoras. Com o golpe militar de 64, através de um cinema político, buscou-se explicitar o dilema entre o rural, o nacional e o internacional.
A partir daí, o rural irá ressurgir por meio de um cinema politizado e engajado, com a preocupação de apresentar a cultura genuína brasileira. Nessa época recorre-se ao sertão nordestino e, o interior do Brasil, que até então era visto como " o resto do país", passa a ser considerado a síntese do destino nacional.
Nesse contexto, o rural em nosso cinema passa a ser representado a partir de duas correntes, uma que o associa ao patriarcalismo, ao conservadorismo do processo de modernização brasileira, e outra que apresenta o rural como uma parte do Brasil ligada ao misticismo ingênuo que rende belas imagens de santos, festividades e rituais. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) representa essa primeira corrente e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969) é o exemplo da segunda corrente.
Depois de conhecer essas três épocas do rural no cinema brasileiro, ficam os questionamentos: Como os filmes contemporâneos brasileiros retratam o rural? De forma cômica? Mítica? Crítica? Ingênua? Ou uma mistura de tudo isso?
Essas respostas, você poderá encontrar nas suas vindas ao cinebrasileiral. A partir de agora, serão apresentados aqui, filmes brasileiros, produzidos após a retomada, que de alguma forma representam o rural, o interior brasileiro. E claro, filmes que ao longo da história, retratando o rural, foram importantes para a nossa cinematografia.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Como fica o rural no nosso cinema?

Depois de ter apresentado a trajetória do cinema brasileiro, é hora de finalmente entender um pouquinho sobre a inserção do rural em nosso cinema. Para isso, vou tomar como referência o livro O rural do cinema brasileiro de Célia Aparecida Tolentino. Assim, o que você irá ler no post abaixo é apenas um breve resumo e se você, caro blogueiro, quiser saber mais sobre o assunto vale à pena conferir o livro.
Tolentino (2004) divide as representações do rural na cinematografia brasileira em três épocas:
Década de 20 – O rural é apresentado como um outro Brasil, não sendo parte da cultura daquele que fala.
Nessa época, grande parte dos críticos e cinéfilos não simpatizavam com os filmes brasileiros que retratavam as mazelas do país. Eles consideravam que o cinema, produzido aqui, deveria apresentar um Brasil ornamental e não um país arcaico. Para atender a estes anseios optou-se por realizar filmes que seguissem os moldes hollywoodianos da época, isto é, produzir obras em que o rural fosse abordado de forma com que aquele que assistisse não se considerasse como pertencente ao grupo representado nas telas.

Década de 50 - O rural é romanticamente professado como nós mesmos, mas num passado distante.
Durante esse período, com a urbanização, o homem pobre do meio rural já poderia ser materializado na figura do paulista e do mineiro. Por estar num “passado distante” ser “coisa fora de moda”, o caipira não representava a nossa imagem diante do estrangeiro, ele agora serviria para despertar risos e alcançar espectadores. Isso aconteceu com a figura do jeca de Mazzaropi no cinema que, retratando o homem do meio rural, conseguiu tornar-se sucesso de bilheterias.
Nessa época a relação
urbano/rural deveria ser vista como uma questão de oposição entre o sul/norte. Era como se o avanço e a modernização estivessem no sul do país, mais precisamente eixo Rio e São Paulo, e o atraso, no norte, no nordeste brasileiro. Infelizmente, esse pensamento ainda vigora no imaginário nacional.
Fique por dentro: Na próxima postagem você vai saber como o rural era representado na “terceira época” (década de 60). E aí, já tem um palpite?